O burnout autista é um tema muito presente entre pessoas autistas, mas ainda pouco explorado nas pesquisas acadêmicas e na prática clínica. Apesar da literatura ser restrita, a comunidade autista tem relatado o quanto essa condição impacta profundamente a vida, podendo levar à perda de trabalho, saúde, independência e, em casos mais graves, ao comportamento suicida.
Essa condição é entendida como o resultado do estresse crônico acumulado ao longo do tempo e do descompasso entre o que se espera da pessoa e suas reais habilidades, especialmente quando não há suporte adequado. Entre as principais características do burnout autista estão a exaustão prolongada (geralmente durando mais de três meses), a perda de habilidades já consolidadas e uma maior sensibilidade a estímulos sensoriais (Raymaker et al., 2020).
A partir de uma pesquisa realizada por Raymaker e colaboradores (2020), adultos autistas descreveram que esse esgotamento surge da soma de estressores da vida e das barreiras para acessar apoio, o que gera uma sobrecarga contínua. A pressão constante faz com que as demandas externas superem as capacidades da pessoa, culminando no burnout. Muitos relataram que, durante esses períodos, habilidades como planejamento, memória, execução de tarefas diárias, trabalho, socialização e regulação emocional ficam comprometidas – e nem sempre se recuperam totalmente depois.
Outro aspecto relatado foi o aumento da sensibilidade a estímulos ambientais, o que se traduz em mais episódios de sobrecarga sensorial, colapsos, desligamentos e evitação de situações que antes eram agradáveis. A falta de empatia de pessoas neurotípicas e a dificuldade de encontrar espaços seguros para ser autêntico também foram apontadas como fatores que agravam a situação.
É preciso destacar que as consequências do burnout autista são sérias, dado que intensifica o aumento do risco de ideação e do comportamento suicida. Além disso, ele é reconhecido como um fenômeno distinto, com suas próprias especificidades, diferente tanto do burnout ocupacional quanto da depressão clínica, o que reforça e valida as experiências relatadas pela comunidade autista.
Por fim, nota-se que é imprescindível reconhecer o burnout autista para desenvolver formas de prevenção e apoio mais eficazes. Estratégias como reduzir expectativas externas, valorizar o tempo de descanso, oferecer suporte social genuíno e incentivar o desmascaramento – ou seja, permitir que a pessoa viva sua identidade autista de forma autêntica – são caminhos apontados para a recuperação e para a melhora da qualidade de vida.
Referência bibliográfica:
RAYMAKER, Dora M. et al. “Having All of Your Internal Resources Exhausted Beyond Measure and Being Left with No Clean-Up Crew”: Defining Autistic Burnout. Mary Ann Liebert, Inc, [s. l.], 10 jun. 2020. Disponível em: https://www.liebertpub.com/doi/10.1089/aut.2019.0079. Acesso em: 26 abr. 2025.