Novos dados do CDC: 1 em cada 31 crianças está no espectro autista

Novos dados do CDC: 1 em 31 crianças está no espectro autista – o que isso significa?

Em abril de 2025, o CDC (Centers for Disease Control and Prevention) divulgou seu relatório mais recente sobre a prevalência do Transtorno do Espectro Autista (TEA) nos Estados Unidos. Os dados mostram que 1 em cada 31 crianças está no espectro – um aumento significativo em relação aos números anteriores.

Essa atualização gerou dúvidas, preocupações e até interpretações equivocadas. Nessa lógica, entender o que realmente está por trás desses dados e o impacto gerado é de grande relevância. 

O que é o CDC?

O CDC é o órgão de saúde pública dos Estados Unidos, responsável pelo controle e prevenção de doenças. Ele monitora a saúde da população americana e realiza estudos de vigilância epidemiológica – como é o caso do monitoramento da prevalência do autismo ao longo dos anos.

Embora os dados sejam dos EUA, o relatório serve como referência internacional e nos ajuda a compreender tendências globais sobre saúde mental e neurodesenvolvimento.

Por que é importante acompanhar esses dados?

Os relatórios do CDC são ferramentas essenciais para orientar políticas públicas, alocar recursos e identificar desigualdades no acesso ao diagnóstico e tratamento.

Além disso, acompanhar a prevalência do TEA ajuda a:

  • Estimular o diagnóstico precoce;
  • Reconhecer o impacto da neurodiversidade;
  • Ampliar o debate sobre inclusão, educação e saúde mental;
  • Apoiar famílias e profissionais com informação confiável.

O aumento significa que há mais crianças com autismo?

Não exatamente. A prevalência indica quantas crianças foram diagnosticadas, mas não significa que o número de casos reais tenha subido repentinamente. Esse aumento está relacionado a fatores como:

  • Maior conscientização da população;
  • Capacitação de profissionais para identificar sinais precoces;
  • Mudanças nos critérios diagnósticos (DSM-5);
  • Melhoria nos sistemas de registro e vigilância.

Toxinas e autismo? 

Apesar de o relatório do CDC não apresentar qualquer discussão sobre causas do autismo, a divulgação dos dados foi marcada por uma declaração polêmica do novo secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, Robert F. Kennedy Jr.

Durante a coletiva de imprensa, Kennedy afirmou – sem apresentar evidências científicas – que a crescente prevalência do autismo poderia estar relacionada a “toxinas ambientais”, descrevendo o autismo como uma “epidemia” evitável. Além disso, ele chegou a dizer que pretende investigar fatores como mofo e medicamentos.

É necessário destacar que essas declarações não estão embasadas na literatura científica atual e contradizem décadas de pesquisa consolidada. Kennedy tem um histórico de divulgar desinformação sobre autismo, vacinas e entre outras inverdades que já foram amplamente refutadas pela ciência.

Diferenças entre meninos e meninas: o que os dados mostram?

Outro dado importante diz respeito à diferença entre os sexos. Embora a prevalência do TEA ainda seja mais frequente entre meninos, a razão caiu de 4,2 meninos para cada menina em 2018 para cerca de 3,4 em 2022.

No entanto, isso não significa necessariamente que a identificação de meninas melhorou significativamente. A subnotificação entre o público feminino continua sendo um desafio.

Desigualdades sociais e étnicas persistem

Os dados também mostraram que:

  • Crianças negras, latinas e asiáticas foram diagnosticadas com frequência maior do que crianças brancas;
  • Famílias de baixa renda apresentaram maior prevalência de TEA entre crianças, revelando um padrão desigual de vulnerabilidade.

Esses dados reforçam o papel dos determinantes sociais da saúde e a necessidade de garantir acesso ao diagnóstico e acompanhamento de maneira adequada e eficaz.

O que tudo isso significa?

Esses números não são motivo de alarde – são, na verdade, um reflexo positivo da evolução nos cuidados com o desenvolvimento infantil.

Em suma, os dados publicados são fundamentais não apenas para compreender o cenário da neurodiversidade, mas também para fortalecer a representatividade das pessoas autistas e embasar o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes. Os avanços estatísticos reforçam a importância de ampliar o acesso ao diagnóstico, à intervenção precoce e ao suporte contínuo, especialmente em comunidades vulneráveis.

Quer ler o relatório completo?

Para acessar o estudo na íntegra, com todos os dados e metodologias utilizadas pelo CDC sobre a prevalência do autismo, acesse o site oficial da agência:

 Clique aqui para ler o relatório completo (em inglês)

A leitura direta da fonte é sempre uma boa forma de se informar com base em evidências e evitar interpretações distorcidas.

Referências Bibliográficas:

KELLY, Shaw et al. Prevalence and Early Identification of Autism Spectrum Disorder Among Children Aged 4 and 8 Years — Autism and Developmental Disabilities Monitoring Network, 16 Sites, United States, 2022. Centers for Disease Control and Prevention, [s. l.], 17 abr. 2025.