Interfaces entre a TCC e a Neuropsicologia na prática clínica

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), criada por Aaron T. Beck no final dos anos 1950 e início dos 1960, é uma abordagem psicoterápica breve, estruturada e focada na resolução de problemas atuais, visando modificar pensamentos e comportamentos disfuncionais para ajudar o indivíduo a enfrentar desafios cotidianos.

Considerando seus fundamentos teóricos, é relevante destacar que a TCC apresenta uma interessante interface com o campo das neurociências, uma vez que se apoia em pesquisas experimentais e empíricas para embasar suas práticas. A partir dessa perspectiva, a TCC se integra à neuropsicologia, que tem como propósito compreender o funcionamento mental e suas interações com o cérebro. A neuropsicologia, com sua base na psicologia cognitiva, busca entender tanto o funcionamento saudável da mente quanto as manifestações patológicas dessas funções cognitivas.

A pesquisa básica em neuropsicologia e neurociência comportamental tem produzido avanços significativos no entendimento dos padrões de alterações psicológicas associadas a doenças neurológicas e psiquiátricas. Além disso, tem possibilitado o desenvolvimento de paradigmas experimentais e testes validados para mensurar o desempenho cognitivo. Nesse contexto, a prática clínica visa, de forma geral, avaliar essas funções, além de planejar e implementar intervenções que possam proporcionar benefícios terapêuticos à manifestação patológica dessas funções.

Nesse contexto, a TCC se mostra uma ferramenta eficaz na promoção de mudanças comportamentais e na reorganização cerebral. Diversos estudos com neuroimagem funcional e estrutural têm demonstrado como a psicoterapia, em particular a TCC, pode gerar efeitos terapêuticos por meio de alterações em circuitos neurais específicos. Isso é particularmente evidente em transtornos de ansiedade, como o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), fobias específicas, ansiedade social, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e transtornos de humor (Fichman; Fernandes; Fernandez, 2012). A TCC, ao modificar padrões disfuncionais de pensamento e comportamento, contribui para a reestruturação de circuitos cerebrais associados a essas condições.

Ademais, a TCC oferece ao paciente ferramentas para lidar com limitações neurocognitivas e explorar suas potencialidades, considerando as exigências do ambiente social, acadêmico e profissional, além das características individuais e do diagnóstico específico de cada paciente. Dessa forma, a TCC não só auxilia na modificação de processos mentais disfuncionais, mas também possibilita a adaptação do indivíduo ao seu contexto, melhorando a qualidade de vida.

Por fim, a convergência entre a TCC e a neuropsicologia oferece um campo amplo para a compreensão e tratamento de diversas condições psicológicas, destacando a interação entre mente e cérebro e ampliando as possibilidades terapêuticas no cuidado ao paciente.

Escrito por: Ana Carolina Ferreira

REFERÊNCIAS: 

ALVARES, FABRICIA QUINTÃO LOSCHIAVO; WILSON, BARBARA A. REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA NOS TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS DA TEORIA À PRÁTICA. [S. l.: s. n.], 2020.

FICHMAN, Helenice Charchat; FERNANDES, Conceição Santos; FERNANDEZ, J. Landeira. Psicoterapia neurocognitivo-comportamental: uma interface entre psicologia e neurociência. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, [s. l.], 1 jun. 2012.