Acreditava-se que era necessário ter 6 anos para realizar uma avaliação neuropsicológica em uma criança. Com os avanços nas pesquisas científicas e nos instrumentos diagnósticos, hoje sabemos que a avaliação neuropsicológica pode e deve ser realizada quando for necessário.
Porém, mais relevante do que a idade, é entender o propósito da avaliação. O principal objetivo é compreender as dificuldades e potencialidades da criança, além de analisar como o contexto influencia seu desenvolvimento, a fim de identificar mudanças que possam potencializar esse desenvolvimento. O diagnóstico nosológico deve ser secundário.
O diagnóstico precoce ajuda a direcionar as terapias, e a intervenção precoce transforma a trajetória de desenvolvimento de uma criança.
Para entender se determinado comportamento é uma dificuldade, precisamos observar dois pilares: a funcionalidade, ou seja, se ele interfere na execução das demandas e dificulta a adaptação da criança no dia a dia; ou se esse comportamento gera alto nível de sofrimento.
Os Pilares da Avaliação Neuropsicológica
A avaliação neuropsicológica de pré-escolares deve construir um perfil abrangente com base na coleta de informações de diversas fontes. Quanto mais rica e descritiva for essa coleta, melhores serão os resultados. Dentre as principais fontes de informações, destacam-se:
- Anamnese: Relato dos pais ou responsáveis sobre o desenvolvimento da criança.
- Observação: Comportamento da criança no consultório e na escola.
- Instrumentos de Avaliação: Aplicação de testes padronizados.
- Relatos de Outros Profissionais: Informações de educadores e outros especialistas.
- Análise de Material: Revisão de vídeos e documentos que ajudem a entender o histórico da criança.
Anamnese de Pré-Escolares
Uma anamnese é a cereja do bolo da avaliação! Quando ela é bem conduzida, se torna fundamental para entender as queixas clínicas e construir um perfil da criança. É essencial adotar uma postura acolhedora e empática com a família, garantindo que se sintam confortáveis para compartilhar informações. Os principais pontos a serem abordados incluem:
- Queixas Clínicas: Identificação dos comportamentos problemáticos.
- Histórico de Desenvolvimento: Como e quando as dificuldades começaram.
- Contexto Atual: Análise do ambiente familiar e escolar.
Construção do Perfil da Criança
A avaliação deve incluir a análise de comportamentos adaptativos e de habilidades para a construção detalhada do perfil da criança. Fatores como autonomia, socialização, aprendizagem, regulação emocional e perfil sensorial, por exemplo, são cruciais para entender como a criança se comporta no dia a dia.
Instrumentos e Raciocínio Clínico
Não existem instrumentos padronizados para todas as funções cognitivas em pré-escolares, por isso, o raciocínio clínico é fundamental. É preciso dominar o manual dos testes utilizados para selecionar os mais adequados às necessidades da criança. Entre os instrumentos utilizados nessa faixa etária, destacam-se: Denver-II, Bayley, IDADI, SRS-2, Escala CBCL, TENA, SON-R 2 ½ – 7 [a], Torre de Londres, THCP, Confias, dentre outros.
Muito importante ir além dos escores e ter um raciocínio clínico que contempla as diferentes fontes de informação. Os instrumentos são muito importantes, mas além deles é preciso de fato detalhar a queixa clínica, fazer visitas para observar a criança na escola e se reunir com professores para verificar se os escores encontrados foram bem representativos.
A observação do comportamento
A observação estruturada do comportamento e suas contingências é essencial para uma avaliação abrangente. Alguns aspectos importantes a serem analisados incluem: brincadeiras simbólicas, motricidade, linguagem e jogos estruturados.
A Postura do Avaliador
O avaliador deve empregar estratégias que maximizem a motivação da criança e garantam um engajamento eficaz. Isso inclui explicar a dinâmica da sessão aos responsáveis e criar um ambiente seguro e acolhedor.
Conclusão
Compreender o desenvolvimento infantil através de uma abordagem detalhada e empática pode fazer toda a diferença na vida das crianças e suas famílias. Investir nesse processo é garantir um futuro mais promissor e saudável para nossas crianças.
Escrito por: Hélen Rezende