Diagnóstico tardio

“Que história é essa de autismo? Você é casado, trabalha há anos…””Como assim
você tem TDAH? Já te vi ficar trabalhando por horas!”

Afirmações como essas, embora muito comuns, expressam um desconhecimento
do impacto que o diagnóstico tardio de um transtorno do neurodesenvolvimento
possui na qualidade de vida de um indivíduo. Identificar o TEA e o TDAH está cada
vez mais comum entre os adultos e idosos não por uma flexibilização nos
diagnósticos, mas porque as pessoas têm tido cada vez menos vergonha em buscar
entender a razão de não estarem “dando conta” de suas demandas diárias.

Seja saber que precisa entregar um projeto em determinado prazo e o que precisa
ser feito, mas não conseguir executar, ou sofrer com o receio de estar sendo
inadequado em determinada interação social… Para além dos sintomas, para que
possamos fechar um diagnóstico, é fundamental a presença de dois fatores:
disfuncionalidade e sofrimento.

Desse modo, aqueles adultos e idosos que passaram a vida toda recebendo rótulos
pejorativos como “preguiçoso”, “antissocial”, “sistemático”, e “avoado” passam a
entender que, na realidade, possuem características e dificuldades que não lhes
tornam nem melhores nem piores que ninguém, mas diferentes. E, mais do que
isso, esses indivíduos podem ser orientados sobre as intervenções mais assertivas
e adequadas para as suas dificuldades.

 

 

Existem inúmeros estudos que atestam a maior incidência de sintomas
internalizantes em adultos e idosos com TEA e/ou TDAH. Devido à rigidez cognitiva,
uma das principais características do autismo, muitos pacientes se apegam a
pensamentos ruminativos negativos. Já o adulto ou idoso que precisou lidar com os
desafios do TDAH sem saber como ou por que, muitas vezes também desenvolve
crenças disfuncionais sobre ele mesmo e sua capacidade de enfrentamento.

Diagnóstico, principalmente quando tardio, é sobre autoconhecimento, e auto
conhecimento é um elemento fundamental na busca por auto compaixão, aceitação
do que não pode ser mudado e comprometimento com as intervenções possíveis.
Portanto, diagnóstico é sobre autoconhecimento e autoconhecimento é sobre
qualidade de vida.

 

Escrito por: Mariana Atheniense