Precisamos falar sobre: Sexualidade e Autismo

A sexualidade é um tabu que, quando se trata do Transtorno do Espectro Autista, se torna ainda menos discutido. Embora se desenvolvam fisicamente como os neurotípicos, os autistas tendem a  enfrentar desafios maiores relacionados à vivência sexual.

 

Um dos mais significativos, é a desinformação. Muitos pais de jovens com TEA têm receio de abordar temas como contracepção, doenças sexualmente transmissíveis, e as experiências sexuais em geral com seus filhos, mas é fundamental que dúvidas sejam tiradas e orientações sejam dadas, de modo sempre adequado a cada faixa etária e perfil cognitivo.

 

Além disso, devido às dificuldades de interação e comunicação social que caracterizam o transtorno, como os déficits em reciprocidade social e emocional; déficits em comportamentos não verbais usados para a interação social; e déficits em desenvolver, manter e entender relacionamentos, alguns autistas podem demorar mais ou ter dificuldade para desenvolver vínculos mais íntimos com os pares. Ademais, as regras sociais “invisíveis” que permeiam as relações amorosas, que já são complexas para grande parte dos neurotípicos, costumam ser ainda mais sutis para as pessoas com TEA.

 

A insegurança do que é ou não adequado de ser feito ou dito em uma interação afetiva é ainda mais comum para os autistas. Muitos preferem se relacionar por meio de aplicativos de namoro ou redes sociais, que lhes permitam ter mais tempo para pensar em como se apresentarem por meio de um perfil, ou em como responder a uma interação por mensagem, por exemplo.

 

A preferência por interações virtuais também pode estar atrelada a dificuldades sensoriais. O processamento sensorial atípico pode se manifestar tanto como uma hipersensibilidade aos estímulos, de modo que o autista tenha maior aversão a toques e beijos, por exemplo, ou como uma hiposensibilidade, de modo que ele busque excessivamente por estímulos sensoriais, o que pode ocasionar em comportamentos sexuais inadequados.

 

Não obstante, apesar de ser constatado pela literatura científica uma maior frequência da população LGBTQIA+ no espectro do que na população geral, muitos autistas têm a sua identidade de gênero ou orientação sexual invalidadas apenas por serem autistas.

 

Os desafios mencionados são apenas alguns dos vivenciados pelas pessoas com TEA quando se trata de sua vivência afetivo-sexual. Essa é uma discussão que está apenas começando, mas que é cada vez mais urgente.

Escrito por: Mariana Atheniense

REFERÊNCIAS:

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