Seletividade Alimentar em Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA)

A seletividade alimentar é uma característica amplamente observada em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), envolvendo a recusa de alimentos com base em fatores como textura, cor, cheiro ou sabor. De acordo com estudos, estima-se que entre 46% e 89% dessas crianças apresentam algum grau de seletividade alimentar, um número significativamente maior em comparação com crianças neurotípicas. Essa seletividade severa pode resultar em uma dieta extremamente limitada, o que afeta diretamente a nutrição e o desenvolvimento dessas crianças.

As consequências da seletividade alimentar podem ser graves, levando a deficiências nutricionais, como ingestão inadequada de fibras, vitaminas e cálcio. Ao mesmo tempo, algumas crianças com TEA podem consumir grandes quantidades de alimentos ricos em sódio e gorduras, exacerbando o risco de obesidade e outras condições de saúde relacionadas à nutrição.

Intervenções comportamentais são comumente aplicadas para lidar com essa seletividade. Uma estratégia eficaz é a análise do comportamento aplicada, que envolve a introdução gradual de novos alimentos por meio de exposições repetidas, acompanhadas de reforços positivos. Isso ajuda a diminuir a resistência inicial das crianças a novos alimentos e facilita a ampliação do leque alimentar. 

Outra técnica amplamente utilizada é o food chaining, uma abordagem desenvolvida por Suzane Evans Morris e Ronald E. Morris na década de 1990. Essa técnica utiliza alimentos aceitos pela criança como base para introduzir novos alimentos com características semelhantes, como textura ou sabor. O food chaining tem como objetivo reduzir a ansiedade da criança em relação a novos alimentos, promovendo uma aceitação mais natural e progressiva. 

A seletividade alimentar também requer a colaboração de pais e cuidadores. Programas de treinamento parental são fundamentais para ensinar estratégias que incentivem a aceitação de novos alimentos no ambiente doméstico. Esses programas são eficazes porque permitem que os pais entendam os benefícios das intervenções terapêuticas para o cotidiano da criança, promovendo a continuidade do progresso alimentar.

Por fim, uma abordagem multidisciplinar é essencial para o sucesso no manejo da seletividade alimentar em crianças com TEA. Nutricionistas, psicólogos, terapeutas comportamentais e ocupacionais trabalham em conjunto para abordar os vários aspectos desse comportamento alimentar, visando melhorar a qualidade da dieta e o bem-estar geral da criança.

Escrito por: Ana Clara

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 

  • SILVA, Mônica de Oliveira da; CORRER, Carlos José dos Santos. Seletividade alimentar em crianças com transtorno do espectro do autismo. *Jornal Brasileiro de Psiquiatria*, Rio de Janeiro, v. 69, n. 3, p. 1-10, 2020. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/jbpsiq/a/t4CjvXxkH4VvL9qGSZG8MDr/>. Acesso em: 10 set. 2024.
  • ZICKGRAF, Hana F.; ELKINS, Allyssa; TODD, Rebecca M. Food Selectivity in Children with Autism Spectrum Disorder. *Pediatric and Neonatal Nutrition*, Washington, v. 10, n. 5, p. 15-25, 2023. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC10048794/>. Acesso em: 10 set. 2024.
  • MORRIS, Suzanne Evans; MORRIS, Ronald E. *Food chaining: The food relationship approach to treating children with feeding problems*. Baltimore: Paul H. Brookes Publishing Co., 1992. Disponível em: <https://www.brookespublishing.com/food-chaining>. Acesso em: 16 set. 2024.