Annelise Júlio-Costa é psicóloga e Farmacêutica Bioquímica. Doutora e Mestre em Neurociências pela UFMG. Foi entrevistada com intuito de informar sobre a importância dos conhecimentos em psicofarmacologia. Annelise irá fornecer uma masterclass sobre psicofarmacologia para não médicos. O objetivo do curso é munir psicólogos e neuropsicólogos de conhecimento em psicofarmacologia.
Para iniciarmos a leitura desta entrevista, precisamos começar te perguntando:
Você, psicólogo e neuropsicólogo, tem repertório e conhecimento para conversar com os profissionais da medicina sobre a influência da medicação no seu paciente?
1- Na sua perspectiva, qual a importância de compreender psicofarmacologia para o neuropsicólogo? E para o psicólogo?
Na minha visão, conhecer sobre psicofarmacologia é extremamente relevante, uma vez que, o tratamento em saúde mental na grande maioria das vezes envolve diferentes profissionais, dentre eles, os profissionais da medicina que atuam com orientação e uso do medicamento que é uma intervenção potencializadora das intervenções cognitivo comportamentais.
Logo, se o paciente faz essa intervenção nós, como psicólogos e neuropsicólogos, precisamos ter um conhecimento básico para conseguir acompanhar e fazer uma diferenciação do que é produto da medicação ou da terapia.
Além disso, muitas vezes o acompanhamento com o psicólogo é mais frequente, e pelo contato mais direto, a comunicação sobre as percepções do paciente em relação ao uso da medicação, chegam com mais facilidade e agilidade e o psicólogo é melhor informado sobre os efeitos colaterais, melhora e dificuldades com a medicação. E, tendo o conhecimento, podemos compreender melhor esse processo da intervenção e saber direcionar o paciente quando se deve procurar pelo retorno ao psiquiatra, por exemplo.
2- As informações sobre medicamentos são úteis de quais formas no processo de avaliação neuropsicológica? E no processo de psicoterapia?
Quando o paciente está fazendo uso de medicação, como neuropsicólogos, precisamos entender aquele padrão cognitivo e comportamental, que a avaliação destrincha, sob o efeito daquela medicação.
Por exemplo, o paciente usa uma medicação que impacta positivamente nos processos de engajamento e atencionais e ele consegue, se a gente observar clinicamente e na testagem, um engajamento bom. Logo, na prática a medicação está fazendo efeito e podemos dar este feedback no encaminhamento, para corroborar com o engajamento e adesão do paciente na intervenção psicofarmacológica.
Já no processo de terapia, é importante porque muitas vezes o paciente está com emoções muito intensas, ansiedade, depressão ou humor desregulado, essa desregulação emocional e ou comportamental, dificulta o processo terapêutico. A medicação é um grande catalisador e aliado do processo psicoterapêutico.
3- Caso o paciente informe que tomou algum psicoestimulante, devo pedir que ele não venha medicado para as sessões de avaliação? Como proceder?
Nós, que não somos profissionais da medicina, não podemos fazer nenhuma modificação do uso dessa medicação. Se o médico sugerir fazer a avaliação neuropsicológica sem o medicamento, tudo bem, contudo, só deve ser feito sob orientação médica.
Uma sugestão, é marcar uma sessão em horário do uso mais distante da medicação. Exemplo: se o paciente toma a medicação de manhã, a sessão pode ser marcada na parte da tarde. Contudo, essa informação exige entender de posologia, meia vida, porque são informações da psicofarmacologia que ajudam a fazer manejos sem interferir em uma parte que, enquanto neuropsicólogos e psicólogos, não podemos fazer.
Caso os manejos de horários não sejam possíveis, é importante informar no laudo que o paciente estava sob efeito de medicação.
4- Tem algum recurso clínico que você indica para que o paciente em terapia tenha maior adesão ao tratamento farmacológico?
Como recursos clínico, costumo indicar livros de psicoeducação sobre o motivo da medicação que tenham capítulos sobre “os benefícios da intervenção medicamentosa”. Além disso, explico com ajuda de metáforas e tento fazer um trabalho voltado a desmentir os mitos que são socialmente respaldados, com artigo e informação baseada em evidências. É muito importante, me munir de informações sobre psicofarmacologia e me preparar, enquanto profissional, para discutir e trazer informações relevantes diretamente com o médico responsável pelas indicações.
O psicólogo não pode mexer em nada na medicação. Todo manejo é do profissional da medicina. Entretanto, o psicólogo tem observações e ponderações clínicas sobre os efeitos da medicação, mas a conversa deve ser feita entre profissionais para não invalidar o tratamento medicamentoso e que pode interferir também na relação e vínculo entre o paciente e o profissional da medicina, o que é extremamente importante para o engajamento e a adesão.
Se você chegou até o final desta entrevista e reconheceu a necessidade de saber mais a respeito de psicofarmacologia, fica como indicação o curso de Psicofarmacologia para não médicos. O curso irá abordar os seguintes tópicos:
- Psicofobia: os estigmas sobre saúde mental e medicamentos
- Introdução: como funciona a neurotransmissão e os principais neurotransmissores
- Princípios básicos de psicofarmacologia
- O diagnóstico em saúde mental
- O medicamento impacta a cognição?
- Saiba como funcionam os principais psicoestimulantes, antidepressivos, ansiolíticos, estabilizadores de humor e antipsicóticos
- Principais efeitos colaterais dos psicofármacos
- Mitos e verdades sobre os psicofármacos
Você pode se inscrever pelo link: https://hotmart.com/pt-br/marketplace/produtos/psicofarmacologia-para-nao-medicos/N83248766B?pp=1
Esperamos por vocês!